terça-feira, 18 de agosto de 2009


" Não importa se a estação do ano muda... Se o século vira, se o milênio é outro. Se a idade aumenta... Conserva a vontade de viver. Não se chega a parte alguma sem ela."
Fernando Pessoa

Envelhecimento também pode trazer felicidade

A maioria das pessoas fica mais feliz quando envelhece, segundo um estudo americano que analisou o comportamento de idosos com mais de 90 anos de idade.
Apesar de preocupações com saúde, dinheiro, mudanças de classe social e a perda de pessoas próximas, os psicólogos acreditam que a velhice é uma fase boa da vida, já que os idosos tendem a aproveitar ao máximo o tempo que resta e sabem como evitar situações que os fariam sentir tristeza ou estresse.
O estudo pediu que voluntários com idades entre 18 e 95 anos participassem de experimentos e mantivessem um diário sobre seu estado emocional. A pesquisadora Laura Cartensen, da Universidade de Stanford, descobriu que as pessoas mais jovens ficavam de mau humor com maior frequência e por mais tempo que as mais velhas.
Além disso, os mais idosos lidaram melhor com críticas pessoais e conseguiram controlar e equilibrar melhor suas emoções. "Com base neste trabalho, sabemos que as pessoas mais velhas sabem que o tempo delas está cada vez mais curto. Elas querem aproveitar ao máximo, então evitam situações que os farão infelizes", explica a psicóloga Susan Turk Charles, especialista no assunto.
"Elas também tiveram mais tempo para aprender e compreender as intenções dos outros, o que os ajuda a evitar essas situações de estresse."

"Experiência positiva" - O chefe de políticas públicas da organização britânica Age Concern, Andrew Harrop, disse que o estudo traz boas notícias. "Para muitas pessoas, a velhice representa medo e preocupação. Muitos jovens assumem que envelhecer é um processo que inevitavelmente vai trazer doença, fragilidade, menos independência. No entanto, isso está longe da verdade em muitos casos", diz ele.
"Muitos idosos levam vidas ativas e saudáveis, enriquecidas pela experiência e o aprendizado". Para Harrop, a pesquisa mostra que os mais velhos ainda têm contribuições importantes a fazer para a sociedade. "O estudo é um de muitos que provam que a velhice pode ser uma experiência extremamente positiva na vida humana."

Fonte: http://www.jornaldeuberaba.com.br

Idosos são minoria entre os casos da nova gripe, mostram estudos.

Doença infecta mais crianças e mata mais jovens adultos.

A taxa de mortalidade da gripe A (inicialmente chamada de "gripe suína") é semelhante ao de uma gripe comum, mas uma coisa tem intrigado os médicos que acompanham a evolução da pandemia. O vírus parece, até o momento, atingir menos aqueles que os especialistas esperavam ser as suas maiores vítimas: os idosos.

A maior parte das mortes pela doença tem ocorrido em jovens adultos, segundo dois estudos separados -- um encomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e realizado por cientistas britânicos e outro feito por pesquisadores americanos e mexicanos. O G1 conversou com um dos autores do primeiro estudo, que foi divulgado no dia 19 na revista especializada "Science". O segundo trabalho foi publicado nesta segunda-feira (29) no "New England Journal of Medicine".

Sempre que surge um novo vírus de gripe, os sistemas de saúde alertam sobre os riscos para os mais velhos. Ao lado das crianças menores de dois anos, as pessoas de mais idade são, em geral, as principais vítimas fatais desse tipo de vírus e também quem sofre mais com complicações respiratórias. É por isso, por exemplo, que o Ministério da Saúde oferece vacina contra a gripe comum para maiores de 65 anos gratuitamente todos os anos.

A gripe A, no entanto, foge à regra. “Uma das coisas que mais chamam a atenção neste vírus é que, ao contrário da gripe sazonal, ele não tem infectado tanto as pessoas mais velhas”, explicou ao G1 o infectologista Christophe Fraser, do Imperial College, de Londres – coautor do estudo da OMS. “A maioria das infecções atinge crianças e a maior parte dos óbitos ocorre em jovens adultos”, afirma Fraser.

Isso não significa, é claro, que os idosos são imunes à gripe. Há casos de pessoas mais velhas infectadas, mas eles são minoria. A vigilância e os cuidados precisam ser mantidos, principalmente por que a gripe comum e a nova gripe são prevenidas da mesma maneira e a gripe comum tem mortalidade alta entre os mais velhos.

É difícil obter números fechados sobre as mortes, por que a doença segue avançando e os cientistas conseguiram analisar até agora apenas os números iniciais da pandemia. Mas os dados levantados por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, e do Ministério da Saúde do México mostram a mesma coisa do estudo da OMS: a maior parte das mortes ocorreu entre pessoas com idades entre 5 e 59 anos – 87% dos 2155 casos de contaminação (com 100 mortes) levantados pelo grupo. Para comparação: apenas 17% das mortes por gripe comum entre 2006 e 2008 foram de pessoas nessa faixa etária.

A equipe da universidade americana levanta a possibilidade dos mais velhos estarem mais protegidos por terem sidos expostos na infância ao vírus da pandemia de 1957. Nada disso, no entanto, foi comprovado.

Cuidados

Todas essas incertezas sobre os perigos da nova gripe fazem os médicos ressaltarem a importância de se manter a vigilância. “É preciso enfatizar que a idade das pessoas que faleceram deixam claro que este vírus é bem diferente do da gripe sazonal e que ainda é muito cedo para complacência. Com certeza é um vírus bem menos severo que aquele de 1918 [da Gripe Espanhola], mas ele pode provar que é bem mais preocupante que a gripe comum se continuar a se espalhar”, afirma Fraser.

Fonte: http://intertvonline.globo.com/rj/noticias

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

NOSSA IDOSA!!

COM A PROFESSORA LÚCIA BERNARDES

TIDIR NOTA 100!!!

terça-feira, 16 de junho de 2009

RECURSOS PSICOLÓGICOS E AJUSTAMENTO PESSOAL FRENTE À INCAPACIDADE FUNCIONAL NA VELHICE

Dóris Firmino Rabelo*
Anita Liberalesso Neri#
RESUMO. Diante do aumento da prevalência de condições crônicas na população idosa, crescente atenção é dada à identificação dos fatores psicológicos e sociais que podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida de indivíduos mais velhos com incapacidades. Os recursos psicológicos e sociais de que o indivíduo dispõe são um caminho na determinação das implicações da incapacidade funcional na vida das pessoas afetadas. Esta revisão tem como objetivo apresentar algumas maneiras pelas quais os indivíduos enfrentam suas perdas em funções físicas e papéis sociais e a extensão em que os recursos psicológicos e sociais operam sobre os efeitos negativos das condições crônicas na qualidade de vida dos idosos. Entre as variáveis explanatórias apresentadas estão o suporte social, as crenças e estados emocionais positivos, a regulação afetiva, o mecanismo de comparação social, o senso de auto-eficácia percebida, o mecanismo de seleção-otimização-compensação e mecanismos de coping.
Palavras-chave: idosos, incapacidade funcional, ajustamento psicológico.
1 Apoio: FAPESP.
* Psicóloga. Mestranda em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas-Unicamp.
# Livre-docente. Professora Titular, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Gerontologia, Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas-Unicamp.



O envelhecimento populacional e o aumento da prevalência de doenças crônicas acarretaram o
crescimento das taxas de incapacidades físicas e/ou mentais entre os idosos brasileiros, fato que representa muitos desafios para as famílias e para a sociedade, além de ser um risco à boa qualidade de vida destes indivíduos mais velhos (Medina, Ramos, 2003; Sairassu & Goldfeder, 1998). Segundo Karsch (2003), estima-se que no Brasil 10% das pessoas acima de 65 anos precisam de ajuda em atividades básicas de autocuidado e que cerca de 40% necessitam de auxílio nas atividades instrumentais de vida diária, o que significa mais de 6 milhões de pessoas e famílias com
necessidade de apoio e suporte. A incapacidade funcional é a maior conseqüência das condições crônicas, além de afetar o status psicológico e o uso de serviços de cuidado de longa permanência. Para Lamb (1996), a incapacidade refere-se a problemas no funcionamento social e no desempenho de atividades normais da vida diária e de papéis socialmente definidos dentro de um ambiente
particular sociocultural e físico. Segundo Jette (1996), compreender a incapacidade é incluir o exame das características da situação em que a pessoa funciona, considerando não apenas as capacidades, mas também a relação da pessoa com aspectos relevantes da situação. Nesse sentido, considera-se como o indivíduo define a situação da incapacidade e reage a ela, como os outros definem a situação de incapacidade e colocam expectativas para os idosos e consideram-se também as características do próprio ambiente físico. O tópico da incapacidade funcional é de grande interesse não apenas porque esta é influenciada por condições médicas, patologia ou deficiência, mas também porque é influenciada por fatores psicológicos e sociais. Como referido em estudo de Lima-Costa, Barreto
e Giatti (2003) sobre as condições de saúde e capacidade funcional da população idosa brasileira,
segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1998, 69% dos participantes
relataram ter pelo menos uma doença crônica (sendo esta proporção maior entre as mulheres); por outro lado, a presença destas doenças, a prevalência de incapacidade funcional e a ocorrência de internações hospitalares aumentaram com a idade. Para Ormel, Kempen, Penninx, Brilman, Beekman e Sonderen (1997), indivíduos com condições médicas crônicas são mais propensos a experienciar sintomas depressivos e são menos capazes de controlar muitos aspectos de suas vidas. Além disso, à medida que a prevalência de muitas condições crônicas aumenta com a idade, os idosos vão adquirindo potencial risco de crescente distresse psicológico e de um funcionamento psicológico deficiente. Os recursos psicológicos e sociais de que o indivíduo dispõe são um caminho na determinação das implicações da incapacidade funcional na vida das pessoas afetadas. Os fatores psicológicos refletem a percepção subjetiva do indivíduo e sua avaliação da situação, são importantes na adaptação à incapacidade, funcionam como recursos de enfrentamento, atenuando a adversidade de situações estressantes, e auxiliam no manejo do ambiente social e físico. Além dos recursos médicos, os fatores psicossociais têm grande potencial para determinar em que medida a vida estendida será vivida eficazmente ou com debilidade, dor e dependência (Bandura, 2004).
É importante a compreensão dos meios pelos quais os indivíduos enfrentam suas perdas em funções
físicas e papéis sociais (Ormel & cols., 1997). Entre aqueles afligidos pelas doenças e condições crônicas, alguns avançam para incapacidades severas e outros não. Tem-se pouco entendimento dos fatores protetores que moderam o impacto dessas condições entre os idosos. Diante do aumento da prevalência de condições médicas crônicas na população idosa, crescente atenção agora é dada diretamente à identificação dos fatores psicológicos e socioculturais que podem atuar de forma negativa no bem-estar e na qualidade de vida de indivíduos mais velhos com incapacidades.
Esta revisão tem como objetivo comentar estudos que tratam das maneiras como os indivíduos
enfrentam suas perdas em funções físicas e papéis sociais e a extensão em que os recursos psicológicos e sociais operam sobre os efeitos negativos das condições crônicas na qualidade de vida dos idosos. Serão apresentadas algumas possíveis variáveis explanatórias de natureza psicológica e social que podem operar como mecanismos protetores ou mediadores no ajustamento pessoal de indivíduos mais velhos com incapacidades.

QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM INCAPACIDADE FUNCIONAL
Questões como o que é uma boa vida e como deveríamos viver para alcançar esta condição vêm
sendo discutidas pela humanidade há centenas de anos. Definições e indicativos de qualidade de vida
podem variar desde o status socioeconômico, a satisfação de necessidades e a capacidade funcional
até o sentido da vida, a satisfação com a vida, o bemestar e a felicidade. Diante dos vários modelos e
definições de qualidade de vida na velhice, pode-se dizer que a experiência de uma doença que tem
potencial para gerar déficits no funcionamento físico, sensorial e cognitivo afeta o desempenho cotidiano do indivíduo e a avaliação subjetiva que este faz de sua vida (Melzer & Parahyba, 2004).
Para Freire (2003), as dimensões física, psicológica, social e espiritual devem ser consideradas
e uma boa qualidade de vida implica em um indivíduo autônomo e independente, com boa saúde física, com senso de significado pessoal, desempenhando papéis sociais e permanecendo ativo. Paschoal (2004), em apresentação de parte de sua pesquisa de construção de um instrumento de qualidade de vida para idosos, considerou a diferença entre as expectativas do
indivíduo e sua realização. A boa qualidade de vida envolve quanto o indivíduo realizou daquilo que
considera importante, a distância entre o idealizado e o realizado e a satisfação com o que foi possível concretizar até o momento. As dimensões de qualidade de vida consideradas importantes para os idosos pesquisados foram a saúde (estado de saúde, doenças, deficiências dos sentidos, viver sem dor importante, etc.), a capacidade funcional (dependência em geral, AVDs, AIVDs, controle sobre a própria vida, etc.), a dimensão psicológica (alegria, tristeza,
gostar de si mesmo, aproveitar a vida, etc.), a dimensão social (abandono da família, ser lembrado
pelos filhos, os filhos estarem bem, etc.), a econômica (aposentadoria, ter casa própria, ter lugar para morar, etc.) e a ambiental (violência, poluição, etc.), hábitos e estilos de vida (tabagismo, elitismo, atividade física, etc.) e a espiritualidade. A deficiência na competência comportamental tem impacto no bem-estar e na necessidade de ajuda informal e serviços de saúde dos idosos. Segundo Lawton (1991), a competência comportamental representa a avaliação socionormativa do funcionamento da pessoa quanto à saúde, ao uso do tempo e às dimensões sociais e cognitivas. Estas competências no dia-a-dia se refletem em autonomia e independência, levando-se sempre em conta os aspectos objetivos, subjetivos e contextuais. Elas manifestam-se na vivência e no comportamento em
contextos cotidianos e abrangem aptidões físicas, cognitivo-emocionais e sociais em inter-relação com as possibilidades do ambiente. Segundo Baltes (1996), a dependência comportamental é a mais temida pelos idosos, pois os segrega de outros grupos etários e faz que eles sejam tidos como incompetentes de acordo com normas sociais, além de ser um desafio para o qual é preciso enfrentamento. Em pesquisa buscando investigar os efeitos das doenças de longa permanência sobre a qualidade de vida de idosos britânicos, Ayis, Goodberman-Hill e Ebrahim (2003) encontraram que as limitações decorrentes dessas doenças estavam associadas com distresse psicológico, com vulnerabilidade percebida, com percepções mais negativas da própria saúde e falta de expectativa de uma vida longa. Segundo os autores, os domínios sócio demográficos, o ambiente físico e social, as condições da doença, o suporte social e os aspectos psicológicos (ex. solidão, senso de controle e de vulnerabilidade) são prováveis variáveis explanatórias dos efeitos limitantes da doença de longa permanência. As doenças crônicas e as incapacidades conseqüentes podem afetar significativamente o bem estar dos idosos. Segundo Kahn e Juster (2002), a maior parte dos estudos que se preocuparam em acessar o bem-estar incluíram uma ou mais questões sobre a saúde. Para os autores, dado o aumento da morbidade e a comorbidades que freqüentemente aparecem com o avançar da idade, a redução na satisfação com a saúde fica evidente. Em estudo com homens de 50 a 72 anos hipertensos e com alto risco de doença cardiovascular, Agewall, Wikstrand, Dahlöf e Fagerberg (1996) encontraram que pacientes com qualquer doença cardiovascular sentem-se significativamente mais descontentes quando comparados com pacientes sem sinais ou sintomas de doenças cardiovasculares. Clarke (2003), investigando idosos canadenses residentes na comunidade que haviam sofrido acidente vascular cerebral, um evento agudo que deixa seqüelas de longa permanência, encontrou que as incapacidades físicas e cognitivas estão sistematicamente associadas com menor senso de ajustamento psicológico após o AVC. Segundo o autor, a extensão em que a incapacidade restringe o senso pessoal de self poderia ser um caminho através do qual estas incapacidades afetam o ajustamento. Analisando saúde e bem-estar subjetivo entre idosos a partir dos dados do Berlim Aging Study, Smith, Borchelt, Maier e Jopp (2002) verificaram que doenças crônicas e deficiências funcionais limitam o bem-estar especialmente entre os idosos mais velhos (80 anos e mais). Segundo os autores, as cumulativas tensões crônicas de saúde limitam o potencial dos indivíduos mais velhos de experienciar o lado positivo da vida. Segundo Xavier, Ferraz, Marc, Escostequy e Moriguchi (2003), para os idosos octogenários residentes em comunidade da cidade de Veranópolis, a falta de saúde é o principal indicador da ausência de bem-estar e de uma qualidade de vida negativa. Bryant, Corbett e Kutner (2001) investigaram o que constitui a saúde e contribui para isso na perspectiva dos idosos pesquisados, e daí emergiu um modelo de envelhecimento saudável. Para os idosos investigados, saúde significa fazer alguma coisa significativa, o que requer quatro componentes: algo que valha a pena fazer; equilíbrio entre habilidades e desafios; recursos sociais apropriados; e características atitudinais pessoais (ex. atitudes positivas X “pobre de mim”). A maior incidência de eventos negativos na velhice - como doenças, perdas e acidentes - levanta a questão de como os idosos lidam de maneira bemsucedida com eles e conseguem manter uma boa qualidade de vida, ou pelo menos a melhor possível (Kahn & Juster, 2002).
A seguir serão exploradas as maneiras como os indivíduos enfrentam suas perdas em funções físicas e papéis sociais e a extensão em que os recursos psicológicos e sociais operam sobre os efeitos negativos das condições crônicas na qualidade de vida dos idosos. Serão propostas algumas possíveis variáveis explanatórias de natureza psicológica e social que podem operar como mecanismos protetores ou mediadores em indivíduos mais velhos com incapacidades.

RECURSOS PSICOLÓGICOS E SOCIAIS ENVOLVIDOS NO AJUSTAMENTO PESSOAL
FRENTE ÀS INCAPACIDADES NA VELHICE
Vivenciar um evento negativo, como ficar incapacitado, que representa ameaça ao senso de controle pessoal e traz conseqüências numerosas e de longo prazo na vida do indivíduo, tende a acionar seus
recursos pessoais e sociais. Segundo Fortes e Neri (2004), eventos inesperados relacionados à saúde, que ocorrem com mais freqüência na velhice, exigem da pessoa um grande esforço adaptativo e propõem uma demanda à personalidade individual, orientando-a ao enfrentamento dos desafios provenientes de um evento não desejado e ao ajustamento psicológico e social; por isso acionam intensamente os recursos emocionais e cognitivos da pessoa afetada, sendo o sucesso na adaptação das demandas exigidas pelo evento um importante indicador de bem-estar (Davies, 1996). Quanto mais desenvolvidos os mecanismos de ajustamento psicológico, maior a chance de adaptação, presumivelmente sem grande declínio na qualidade de vida do idoso. Para Silva e Varela (1999), adaptação significa maximizar as possibilidades individuais reorganizando a vida frente às limitações percebidas, ajustando-se às diversas situações individualmente ou com a ajuda de outros. É um processo contínuo de atualização das potencialidades pessoais e de aprender a viver com as limitações explorando e utilizando ao máximo seus recursos disponíveis. A crise decorrente da ocorrência de uma incapacidade que demanda efetiva mudança traz dificuldades ao ajustamento pessoal, uma vez que acarreta interrupção na continuidade do estilo de vida, torna necessária a utilização de mais métodos de enfrentamento e de mais esforços para manter o senso de controle, faz com que mude a referência grupal e torna mais difícil identificar novos selves possíveis (Coleman, 1996). Para Davies (1996), as variáveis mais significativas envolvidas na adaptação são o suporte social, o coping e o controle percebido. De acordo com Antonucci (2001), o suporte social ajuda os indivíduos a enfrentar e se recuperar das demandas da vida. Segundo a autora, pessoas com amplas redes sociais têm mais ajuda nos tempos de doenças e as pessoas que percebem mais suporte enfrentam melhor as enfermidades, o estresse e outras experiências difíceis da vida. Para Handen (1991), o suporte social aumenta a auto-estima e o sentimento de domínio sobre o próprio ambiente, tem a função de coping ao amenizar o impacto das doenças e provavelmente modera o efeito das crises inesperadas. Segundo Antonucci (1994), o suporte social estimula o senso de controle e auto-eficácia. Os membros da rede social são capazes de promover no indivíduo a crença de competência e de capacidade de controlar seu ambiente e ser bem-sucedido. As mulheres têm redes sociais maiores e mais multifacetadas, percebem melhor disponibilidade de suporte, dão mais suporte e têm melhores habilidades interpessoais do que os homens. Na velhice, essas habilidades tornam-se significativamente mais úteis na expansão e no fortalecimento das redes de suporte social. Além
disso, as mulheres fazem melhor uso de instituições socialmente organizadas (Antonucci, 2001; Haden, 1991).Os eventos da vida podem ser estressantes porque exigem ajustamento da parte do indivíduo e também porque restringem fontes importantes de suporte, o que tem grande impacto sobre a saúde e o bem-estar. Em estudo objetivando identificar os fatores da qualidade de vida associados com os padrões de incapacidade na velhice, Lamb (1996) verificou que os indivíduos mais incapacitados funcionalmente e com perfis mais depressivos (tendência maior para mulheres) apresentaram mais saúde percebida negativamente, escores de humor mais baixos e menor satisfação com a freqüência de contato e de visitas de familiares e amigos. Aqueles muito deprimidos tinham
menor suporte instrumental em termos de parentes disponíveis.
Na tentativa de identificar os determinantes mais importantes de bem-estar entre idosos poloneses após a ocorrência do primeiro AVC isquêmico, Jaracz e Kozubski (2003) encontraram que o mais forte é a extensão do suporte emocional, seguido da presença de depressão e do status funcional. Segundo Agewall, Wikstrand, Dahlöf e Fagerberg (1996), o aumento da mortalidade em pacientes hipertensos com alto risco de doença cardiovascular esteve associado com uma rede social pobre. De acordo com Clarke (2003), para os sobreviventes de AVC participantes de sua pesquisa o suporte social apareceu como importante para o senso positivo de bem-estar e para o domínio sobre o ambiente, em parte porque ajuda nas estratégias de adaptação das incapacidades. Aqueles com uma grande rede de suporte social percebiam grandes oportunidades de crescimento pessoal e aqueles que estavam satisfeitos com seu suporte tiveram escores mais altos nas relações positivas com outros e na auto-aceitação. Recursos psicológicos como o otimismo, o controle pessoal e o senso de significado também são importantes como reservas que permitem às pessoas enfrentar mais efetivamente os eventos críticos da vida. Segundo Taylor, Kemeny, Reed, Bower e Grunewald (2000), ilusões positivas que representam crenças positivas moderadas de distorções sobre a realidade, como o otimismo irreal e a percepção exagerada de controle pessoal, têm efeitos psicológicos protetores. Segundo os autores existem algumas razões pelas quais as ilusões positivas sobre a saúde podem inclusive afetar o curso da doença física. Em primeiro lugar as crenças positivas têm impacto nos estados emocionais, que por sua vez podem causar mudanças fisiológicas e neuroendócrinas. Elas também podem promover comportamentos saudáveis, uma vez que pessoas dotadas de senso de autovalor acreditam no seu poder de controle e são otimistas quanto ao seu futuro; são também mais propensas a praticar hábitos de saúde mais conscientes e a fazer uso dos serviços mais apropriadamente. Para Ramos (2003), embora grande parte dos idosos tenha pelo menos uma doença crônica, se estes mantiverem suas enfermidades controladas são capazes de levar uma vida normal mesmo diante de incapacidades. A terceira razão que conecta as crenças positivas ao curso da doença é baseada no fato de que os estados emocionais positivos estão associados com
bons relacionamentos sociais.
Finalmente, o otimismo, o senso de controle pessoal e a autoestima estão ligados aos esforços ativos de coping, e as ilusões positivas ajudam os indivíduos a encontrar significado na experiência. Para Salovey, Rothman, Detweiler e Steward (2000), as experiências emocionais positivas aumentam a
disponibilidade de recursos psicológicos, uma vez que pessoas com estados emocionais positivos
acreditam ser menos vulneráveis, enfrentam mais efetivamente os eventos estressantes e apresentam
maior disponibilidade de contatos interpessoais e mais soluções criativas. Labouvie-Vief e Medler (2002) acreditam que a regulação afetiva envolve duas estratégias independentes: a otimização afetiva e a complexidade afetiva. Os idosos têm grande capacidade de resiliência e, frente a perdas, tendem a organizar seu ambiente de maneira a maximizar afetos positivos e a amenizar os negativos. Essa habilidade auto-reguladora é chamada de otimização afetiva. Um critério adicional é a complexidade afetiva, caracterizada pela amplificação do afeto na busca por diferenciação e
objetividade. Refere-se aos mecanismos de regulação emocional que envolvem a habilidade de
coordenar afetos positivos e negativos em estruturas flexíveis e diferenciadas. No desenvolvimento humano, à medida que o sistema cognitivo amadurece, os indivíduos são mais capazes de coordenar sentimentos positivos e negativos através de processos de inibição/desinibição, avaliação e análise, e como resultado são desenvolvidas estruturas cognitivo afetivas complexas. Os mesmos autores sugerem que a otimização afetiva e a complexidade afetiva cooperam para formar uma auto-regulação efetiva e que as estruturas cognitivo-afetivas podem declinar na complexidade da meia-idade em diante. Sua pesquisa mostrou que a dimensão da otimização afetiva está relacionada principalmente com a família e com a qualidade dos relacionamentos, e a dimensão da complexidade afetiva está relacionada com a complexidade do ambiente, o status econômico e a educação. Além disso, o afeto positivo e sua maximização têm diferentes significâncias no contexto de alta ou baixa complexidade afetiva. A incapacidade oferece às pessoas muitas oportunidades de tirar conclusões sobre como sua situação se compara com a de outras pessoas (Tennen & Afleck, 1997). A comparação com outros desempenha um papel importante na avaliação e construção da realidade e no enfrentamento de eventos negativos. Em situações que produzem um decréscimo no bem-estar, os indivíduos irão freqüentemente se comparar com outros que eles acreditam serem piores, em um
esforço de melhorar seu bem-estar, particularmente quando não têm em vista oportunidades de ações
instrumentais (Buunk, Gibbons & Reis-Bergan,1997). Esse mecanismo de enfrentamento é denominado por Wills (1997) de comparação descendente (downward comparison). A ciência,
por parte da pessoa, de que existem indivíduos com problemas piores ou atributos inferiores e que há situações potencialmente piores, faz emergir a percepção de que seu status é relativamente mais
favorável, e isso produz um aumento no bem-estar subjetivo. A comparação descendente poderá atuar reduzindo o afeto negativo atual e permitir que a pessoa sinta-se melhor no momento. Para Kulik e Mahler (1997), a afiliação a outros grupos que tenham passado pelo mesmo problema pode ajudar no enfrentamento da situação. Segundo os autores, argumenta-se que em geral a decisão de se juntar a esses grupos envolve o processo de comparação social. O contato com outros que estão enfrentando situações similares reduz a ansiedade e os sentimentos de singularidade ou de desviante, além de ser fonte de suporte social. A proliferação de tais grupos nos últimos anos tem demonstrado por si só a sua importância no enfrentamento de situações estressantes. Entre os atributos psicológicos importantes para o gerenciamento de condições crônicas está a crença de auto-eficácia percebida. O conceito de auto-eficácia, introduzido por Bandura no contexto da teoria social cognitiva, diz respeito às crenças que as pessoas têm em sua própria capacidade de organizar e executar os cursos de ação requeridos para alcançar determinados resultados. A autocrença das pessoas em suas capacidades permite que elas exerçam controle sobre os eventos que afetam suas vidas; e como essas crenças se traduzem em realização e motivação, elas têm forte impacto no pensamento, no afeto, na motivação e na ação (Bandura, 1993). A auto-eficácia percebida influencia o que as pessoas escolhem fazer, sua motivação, sua perseverança frente a dificuldades, sua
vulnerabilidade ao estresse e à depressão. Influencia-as na situação de presença de doenças crônicas inclusive no nível de benefício que os indivíduos recebem das intervenções terapêuticas. Altos níveis de auto-eficácia para o enfrentamento das conseqüências das doenças crônicas estão associados com a melhora nos sintomas, melhor bem-estar físico e emocional e o aumento das atividades sociais. Assim, a auto-eficácia percebida é uma pré-condição essencial para o manejo apropriado da doença crônica (Holman & Lorig,1992). Baixas expectativas de auto-eficácia percebida podem predizer grande incapacidade, e para as pessoas idosas centram-se principalmente na reavaliação e na avaliação incorreta de suas capacidades. De fato, muitas capacidades físicas podem declinar na velhice, especialmente diante de doenças, requerendo reavaliações da eficácia pessoal. A avaliação da própria capacidade é altamente vantajosa e não raro essencial para o funcionamento efetivo. Aqueles que julgam incorretamente o que são capazes de fazer podem engajar-se em desempenhos que produzem conseqüências pouco satisfatórias (Bandura, 1997). Segundo Baltes (1996), quando a velhice tornase cheia de restrições tanto na capacidade quanto nas oportunidades ambientais, os idosos invariavelmente lançam mão da seleção e compensação. Com o objetivo de manter e otimizar a funcionalidade, a dependência em alguns domínios tem que ser ajustada. A seleção, a otimização e a compensação (SOC) são três processos adaptativos. A seleção é invocada em resposta a perdas na funcionalidade ou capacidade, e inclui evitar, reduzir ou restringir o número de atividades, bem como reorganizar objetivos pessoais com vistas a focalizar aquelas áreas que são mais importantes ou salientes na vida cotidiana do indivíduo. Otimizar as atividades abarca os esforços que as pessoas fazem para ampliar ou enriquecer suas reservas com vista a permanecer funcionando, como, por exemplo, praticar, treinar e exercitar atividades para superar o declínio comportamental. Os processos de compensação são respostas às perdas na capacidade e incluem processos psicológicos ou esforços comportamentais para melhorar a funcionalidade. A manutenção da competência dependeria então da seleção dos domínios em que o indivíduo retém melhor nível de funcionamento, otimizando-os mediante estratégias de treino e garantindo assim a compensação das perdas. Segundo Lang, Rieckmann e Baltes (2002), o uso de estratégias de seleção, otimização e compensação está associado com uma melhor funcionalidade física e mental e também requer o uso da capacidade individual nos domínios do funcionamento sensório-motor, cognitivo, social e da personalidade. Assim, quanto mais rico em recursos sensório-motores, cognitivos, sociais e de personalidade for o indivíduo que envelhece, melhor é o engajamento no uso de estratégias de seleção, otimização e compensação. No estudo realizado pelos autores com base no Berlin Aging Study, foi proposto que idosos ricos nestes recursos exibem menos diferenças negativas associadas ao envelhecimento e funcionam melhor no cotidiano do que aqueles que são pobres em recursos. Os resultados sugeriram que o uso de estratégias de seleção, otimização e compensação no cotidiano é maior entre os idosos ricos em recursos, quando comparados com aqueles pobres em recursos. Os idosos ricos em recursos sensório-motores, cognitivos, sociais e de personalidade investiam mais tempo com seus familiares, reduziam a diversidade de atividades dentro do domínio mais saliente de lazer, dormiam com mais freqüência e aumentaram a variabilidade de investimentos de tempo através de atividades. Em estudo que buscou investigar os esforços comportamentais de idosos com osteoartrite e/ou osteoporose usados na adaptação de suas incapacidades, Gignac, Cott e Badley (2000) verificaram que os idosos usam uma ampla variedade de formas de adaptação, que incluem a compensação de perdas, a otimização de performances, a restrição ou limitação de atividades, e ganham ajuda de outros. Segundo Rothermund e Brandtstädter (2003), com o avançar da idade estes esforços
compensatórios mais cedo ou mais tarde chegam ao seu limite. Acima dos 70 anos o decréscimo nesses esforços compensatórios está associado à diminuição da disponibilidade e da eficiência dos
recursos de ação. Para os autores, a resiliência do self na velhice não pode ser explicada simplesmente em termos de esforços ativos de compensação. Os processos de enfrentamento assimilativo e acomodativo dão uma explicação mais compreensiva, que considera o efeito recíproco entre as intervenções ativas e o ajustamento de metas pessoais e padrões para mudanças nos recursos de ação. O enfrentamento assimilativo consiste na tentativa de evitar ou diminuir as perdas mediante atividades instrumentais, autocorretivas e compensatórias. Neste modo de enfrentamento, o indivíduo tenta transformar a situação avaliada negativamente de maneira a conformá-la com as aspirações e metas pessoais. Um modo diferente de neutralizar a discrepância entre o estado atual e o idealizado consiste em adaptar as metas e os objetivos aos dados constrangimentos. Esse processo acomodativo envolve o desengajamento e a diminuição dos padrões de performance pessoais e aspirações, isto é, os indivíduos acomodam seus objetivos e adotam padrões de performance mais suaves ou indulgentes. Os processos acomodativos são dominantes quando as repetidas tentativas ativas de mudança da situação são mal-sucedidas e são importantes para amenizar tensões emocionais que emergem diante da experiência de incapacidades irreversíveis. Os idosos participantes da pesquisa dos autores sobre a questão dos dois processos de coping, mostraram que a estabilidade na auto-avaliação depende do ajustamento de padrões pessoais, e que a aceitação de padrões mais indulgentes de comparação amenizaram os efeitos negativos dos déficits físicos na satisfação com a performance pessoal. Como destacou Coleman (1996), a crise decorrente da ocorrência de uma incapacidade que exige mudança efetiva traz dificuldades de ajustamento, porque também torna mais difícil identificar novos selves possíveis. De acordo com Atcheley (1999), o desenvolvimento da incapacidade pode ter efeitos negativos nas várias dimensões do self, uma vez que altera a estrutura social do indivíduo no sentido de introduzir constrangimentos físicos e no estilo de vida, influencia negativamente a percepção individual de agência, reduz a concepção de uma pessoa resiliente emocionalmente e traz abandono de algumas metas pessoais. Para o autor (1991), inclui-se nos impactos negativos a interrupção da continuidade do self, mais necessidade de defesas e enfrentamento de perdas para o self, reduzidas capacidades de usar defesas como a interação seletiva, dificuldade de identificar selves possíveis, despersonalização do ambiente social, mudança nas referências grupais e menores habilidades em usar feedback na reconstituição do self. Os indivíduos incapacitados usualmente têm que redefinir o significado de competência e autoconfiança; no entanto, existem muitos indivíduos mais velhos que conseguem enfrentar positivamente a fragilidade. Encontrou-se em estudo feito por Atcheley (1999) que a maioria dos idosos pesquisados que desenvolveram incapacidades mostraram continuidade no senso de agência, na resiliência emocional e nas metas pessoais. Segundo o autor, estes resultados sugerem que o desejo interno por continuidade excede as pressões externas e situacionais por mudanças, pelo menos em relação a estes elementos do self e, na ausência de graves limitações e incapacidades, os idosos conseguem a continuidade nos vários domínios do self. Segundo Staudinger, Marsiske e Baltes (1995), diante de perdas o self apresenta resiliência ou capacidade de reserva, isto é, o potencial de manutenção e recuperação dos níveis de adaptação normal e a presença de recursos latentes que podem ser ativados frente aos desafios e exigências. É proposto que os idosos, mesmo sob condições de limitações e incapacidades funcionais, mantêm um senso positivo de bem-estar (Smith, Borchelt, Maier & Jopp 2002). Segundo Neri (2001), perdas na funcionalidade não são necessariamente um impedimento para a continuidade do funcionamento cognitivo e emocional, e como qualquer ser humano, o idoso consegue ativar mecanismos compensatórios para lidar com essas perdas. Para Clarke (2003), os processos psicológicos de adaptação e recursos sociais como programas de reabilitação e cuidados em domicílio são importantes na redução dos efeitos adversos das incapacidades funcionais sobre o bem-estar na idade avançada. A capacidade dos indivíduos de se ajustar à diversidade e à dificuldade das experiências de vida, mantendo níveis positivos de bem-estar e qualidade de vida, apresenta um paradoxo. Segundo (Albrecht & Devlieger, 1999), o paradoxo da incapacidade leva à questão: “Por que muitas pessoas com incapacidades sérias e persistentes relatam que experimentam boa ou até mesmo excelente qualidade de vida quando a maioria dos observadores externos destes indivíduos acredita que estes têm uma existência indesejável?” Na tentativa de explicar esta questão, os autores encontraram nos resultados de sua pesquisa a confirmação deste paradoxo e constataram também que, para os indivíduos com incapacidades entrevistados, a boa qualidade de vida depende do balanço entre corpo e mente e da manutenção de relações harmoniosas dentro dos contextos pessoais e sociais. Algumas pessoas incapacitadas são capazes de produzir e manter esse equilíbrio e conseqüentemente experimentar alta qualidade de vida, enquanto outros não são capazes de lidar com suas condições de saúde, têm limitados recursos, pouco conhecimento e restrições ambientais. Eventos negativos como a incapacidade funcional decorrente de condições crônicas levantam a questão de como estes eventos afetam a qualidade de vida dos indivíduos e de como esses indivíduos lidam com eles de maneira bem-sucedida. À medida que as pessoas envelhecem, a habilidade de se recuperar de eventos negativos da vida adquire importância adicional (Kahn & Juster, 2002). Considerando que o envelhecimento e o desenvolvimento pessoal são processos complexos dependentes do contexto sócio-histórico e cultural e da interação de fatores biológicos e subjetivos, chamamos a atenção para a importância de pesquisas mais aprofundadas sobre o que é ser velho no Brasil, com sua realidade sociocultural multifacetada, e como estes idosos estão se comportando frente às suas incapacidades e doenças. O envelhecimento satisfatório é dependente do equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do indivíduo, e aqui foram propostos alguns recursos pessoais e sociais de que os indivíduos lançam mão frente a um evento indesejado, na tentativa de alcançar este equilíbrio. Diante do acelerado envelhecimento da população brasileira e de suas conseqüências, muitas possibilidades de estudo e prática se abrem para o psicólogo frente a este campo ainda muito inexplorado num país tão diverso quanto o nosso, e com muitas demandas clínicas, sociais e educacionais emergentes.







CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato de que ser idoso e incapacitado resulta em maior desvantagem social já está documentado; mas também é sabido que grande parte dos idosos são de alguma maneira capazes de neutralizar os efeitos destas desvantagens e manter satisfatória sua qualidade de vida, suas autoconcepções e seu
ajustamento pessoal (Atcheley, 1999). Para tanto, é importante a disponibilidade de recursos psicológicos e sociais, entre eles, o suporte social, as crenças e estados emocionais positivos, a regulação afetiva, o mecanismo de comparação social, o senso de autoeficácia percebida, o mecanismo de seleçãootimização- compensação e mecanismos de coping. O reconhecimento da longa permanência das conseqüências psicossociais das condições incapacitantes é crucial no estabelecimento de programas de cuidado. Com o crescente número de idosos vivendo com doenças crônicas, problemas de saúde e decréscimo na capacidade, o que importa para os profissionais engajados nestas questões é ajudar esses idosos a viver uma vida tão boa quanto possível. É relevante ter em mente que quanto mais integrados psicológica e socialmente estiverem os idosos, menos ônus eles trarão para suas famílias e cuidadores e para os serviços de saúde e melhor será sua
qualidade de vida.

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Recebido em 27/05/2005
Aceito em 15/09/2005