segunda-feira, 4 de maio de 2009

Resenha

Colaboradora : Dra Mônica Cristine Jove Motti *

* Médica geriatra

Os distúrbios psiquiátricos mais prevalentes nos idosos são as síndromes depressivas e as demenciais, que alteram a qualidade de vida, aumentam a morbidade e a mortalidade do idoso.

Definição: A depressão é o nome atribuído a um conjunto de alterações comportamentais, emocionais e de pensamento, com distúrbio do humor e ou anedonia (perda ou diminuição do interesse pela vida).

Os fatores etiológicos da depressão no idoso (maior que 60 anos) podem ser divididos em biológicos e psicossociais, onde é classificado como biológico a perda neuronal e diminuição de neurotransmissores; o genético; a doença física e as medicações. E classificado como fatores psicossociais a diminuição de renda; as modificações no papel social; o luto/perdas e a doença física incapacitante e/ou dolorosa.

A depressão também pode ser classificada em depressão de início em fases precoces da vida e em depressão de início tardio que ocorre em pacientes acima de 60 e 65 anos. No caso a depressão de início tardio esta relacionada com alterações do sistema nervoso central, e observa-se a probabilidade do paciente evoluir para o quadro de demência do tipo Alzheimer.

Pacientes com alterações vasculares também podem desenvolver a depressão de início tardio. Nos casos de AVC e nas demências vasculares a presença de depressão esta bem aumentada.

A depressão e a doença física estão relacionadas e é de suma importância para o idoso, devido a redução das reservas funcionais, as alterações no mecanismo de homeostase e as alterações nos diversos sistemas orgânicos, além de grande número de doenças crônicas e do aumento do número dos medicamentos utilizados, que levam o idoso a toda a sua vulnerabilidade frente a depressão.

Pode-se observar que a depressão desencadeia ou mesmo agrava as doenças preexistentes e em geral é acompanhada de dores, mal estar físico, sensação de fraqueza e cansaço, alterações do sono e do apetite.

A depressão pode causar diretamente a doença física, existe a relação entre as alterações da imunidade e também pode-se observar a depressão como fator de risco para as doenças cardiovasculares. Além de que o paciente idoso deprimido pode não aceitar o tratamento, não aderindo e acaba por se cuidar menos, desde a higienização até a alimentação.

Em muitos casos a depressão surge como secundária a doença física, por exemplo causada pelo hipotireoidismo ou por carcinomas, por reação as conseqüências da própria doença física devido as limitações e mesmo a dor que a doença esta causando. Outra causa de depressão é o uso abusivo de álcool, benzodiazepínicos e drogas ilícitas, nestes casos independem da idade.

Quanto aos fatores psicossociais relacionados a depressão como o falecimento do cônjuge, o afastamento dos filhos, a diminuição de renda, as limitações físicas, a aposentadoria e as modificações no papel social, todos esses fatores podem afetar o idoso de diversas maneiras e dependem da idade, do tipo do evento, da personalidade e da história de vida de cada um. Podem ser fatores desencadeantes ou mesmo fatores predisponentes.

Quadro clínico

Os sintomas entre idosos e adultos jovens são os mesmos, o que difere no idoso é o relato de sintomas somáticos como alteração no sono e no apetite , muito mais do que os sintomas psicológicos como alteração do humor e anedonia. E dentre os sintomas psicológicos o idoso apresenta mais a anedonia do que os sintomas de distúrbio do humor. Outra queixa é a alteração cognitiva, onde o idoso reclama das alterações de memória.

Como vemos a depressão nos idosos depende da interação entre os fatores ambientais, constitucionais, biológicos e suporte social.

Os fatores ambientais são as questões negativas da vida como as limitações,que acabam por desencadear a depressão.

Os fatores constitucionais são as propensões genéticas ao desenvolvimento da depressão, como os traços marcantes da ansiedade.

Os fatores biológicos levam a depressão através das doenças físicas e a conseqüente incapacitação , incluindo também a depressão vascular de início tardio.

O suporte social favorece a depressão por: a ruptura dos vínculos sociais, a perda do espaço ocupacional, a diminuição do rendimento econômico e o isolamento.

A incapacidade decorrente da senilidade é um fator de risco importante para o desenvolvimento da depressão no idoso, gerando estresse e alterações negativas da vida. A imobilidade, a dor, a ansiedade, hospitalização,a reabilitação demorada, a sensação de perdas, a baixa auto-estima, desmoralização , as restrições das atividades sociais e interpessoais podem precipitar o início da depressão.

A depressão e o Luto

Segundo dados norte-americanos 78% das pessoas viúvas tem mais de 65 anos. Observa-se um aumento de consultas médicas e um aumento da mortalidade por suicídio e acidentes. Provavelmente a depressão não tratada nesta fase pode estar contribuindo para este quadro. Os viúvos tem depressão e por isso uma percepção negativa da vida, tendem a usar o tabagismo ou mesmo drogas e podem apresentar um comprometimento do sistema imunológico. O luto é um fator desencadeante de transtornos de ansiedade.

Após um período de 6 meses 24% a 30% apresentam o quadro depressivo, ao longo de 1 ano 16% apresentam depressão e em torno de 2 anos 15% apresentam a depressão. O luto complicado esta associado à história pessoal anterior de transtorno depressivo e a história familiar de depressão.

Pseudodemência depressiva

A presença de depressão emocional pode chegar a 20% nos idosos, afetando a cognição e a motivação para a memória. Alguns casos são reversíveis após o tratamento, porém em outros os pacientes evoluem para demência.

Depressão pós AVC

A depressão é uma complicação psiquiátrica mais freqüente nos pacientes com acidente vascular cerebral (AVC). Observa-se que após o quadro do AVC o paciente apresenta uma limitação funcional, com conseqüências negativas nas relações interpessoais, nas relações com a família, social e na qualidade de vida.

Os fatores de risco para o desenvolvimento da depressão pós o AVC são a presença do prejuízo funcional, prejuízo cognitivo, história de depressão, idade, sexo, história de AVC prévio, hipercortisolemia, aspectos sociais e correlatos neuroanatômicos.

Depressão e as doenças cardíacas

Estudos recentes sugerem que a depressão é um fator de risco para o desenvolvimento da doença coronariana e também leva a um aumento da mortalidade pós um infarto do miocárdio. A depressão levaria a diminuição da aderência dos pacientes cardíacos ao tratamento por desilusão, desesperança ou desinteresse e também o paciente poderia não querer manter a própria saúde (desistência).

Outro efeito da depressão seria por efeitos deletéricos através de mecanismos biológicos como a adesividade crescente das plaquetas, tornando o paciente vulnerável a oclusão arterial e novo IM; ou mesmo por influencia no sistema nervoso autônomo sobre a contratura muscular lisa das coronárias.

Alguns estudos comprovaram a presença de depressão em pacientes portadores de Insuficiência cardíaca congestiva mesmo após a alta hospitalar.

Outro estudo demonstra que a depressão aumentaria a incidência das arritmias ventriculares, pelo predomínio do sistema nervoso simpático. Há algum tempo propõe-se que a depressão afeta a coagulação e a trombogenese.

Depressão no idoso institucionalizado

O idoso que vive em uma institucionalização vive separado do ambiente familiar, na presença de pessoas estranhas e muitas vezes isolado, sentindo-se abandonado, dependente e inútil. Em relação a algumas instituições onde existe uma baixa qualidade de vida oferecida para o idoso, este acaba por apresentar um quadro insegurança, descontentamento e também uma falta de intimidade. Todo este processo pode levar a um quadro de depressão mesmo que o paciente não tenha histórico da doença ou o histórico familiar do transtorno de ansiedade e depressão.

Observando todo este quadro que o paciente vem apresentando,ainda podemos utilizar critérios para diagnóstico de depressão e em seguida pode-se começar o tratamento de acordo com o idoso, sendo os bloqueadores seletivos da recapitação da serotonina (ISRS) os mais utilizados (Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Citalopram), e dentre os antidepressivos tricíclicos (Imipramina, Clomipramina, Amitriptilina e Nortriptilina) a nortriptilina é considerada a melhor para o idoso. Outras medicações utilizadas são a Venlafaxina, Mirtazapina e a Bupropiona.

Referências:

JUNIOR,ALBERTO STOPPE. Depressão em Idosos.Atualizações Diagnósticas em Terapêutica em Geriatria, cap60, pg 565 a 571.

BALLONE GJ- Depressão no Idoso-in. PsiqWeb,Internet,disponível em revisto em 2006.

TERRONI,LMN et al. Depressão Pós AVC: Fatores de risco e terapêutica antidepressiva-Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP. [on line]

BALLONE GJ- Personalidade Tipo A e Cardiologia- in PsiqWeb,Internet,2001, revisto 2003.

BALLONE GJ- Psicossomática e Hipertensão Arterial- in. PsiqWeb, Internet, disponível 2003.

http://www.medicinageriatrica.com.br/2007/10/04/saude-geriatria/depressao-presente-na-vida-do-idoso/

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