terça-feira, 9 de junho de 2009

Condições associadas ao grau de satisfação com a vida entre a população de idosos

Rev Saúde Pública 2007;41(1):131-8

Luciane Cristina JoiaI
Tania RuizII
Maria Rita DonalisioIII

Life satisfaction among elderly
population in the city of Botucatu,
Southern Brazil

RESUMO

OBJETIVO: Com o aumento geral da sobrevida da população, torna-se importante
garantir aos idosos não apenas maior longevidade, mas felicidade e satisfação com a
vida. O objetivo do estudo foi descrever os fatores associados ao grau de satisfação
com a vida entre a população de idosos.

MÉTODOS: Foram entrevistados 365 idosos no município de Botucatu, SP, em
2003, selecionados por meio de amostragem estratificada proporcional e aleatória.
Utilizou-se uma composição dos questionários de Flanagan, de Nahas e o WHOQOL


100. Para complementar o inquérito, foram acrescentadas questões sobre atividade
física do Questionário Internacional de Atividade Física; perguntas sobre morbidade
referida e avaliação emocional, situação sociodemográfica, além de uma pergunta
aberta. O grau de satisfação com a vida foi medido numa escala de um a sete,
utilizando reconhecimento visual. Foi realizada análise de regressão logística
hierarquizada, considerando como variável dependente a “satisfação com a vida” e
variáveis independentes àquelas que compuseram o questionário final, em blocos.
RESULTADOS: A maioria dos idosos estava satisfeita com sua vida em geral e em
aspectos específicos. Associou-se com o grau de satisfação com a vida: conforto
domiciliar (OR=11,82; IC 95%: 3,27; 42,63); valorizar o lazer como qualidade de
vida (OR=3,82; IC 95%: 2,28; 6,39); acordar bem pela manhã (OR=2,80; IC 95%:
1,47; 5,36); não referir solidão (OR=2,68; IC 95%: 1,54; 4,65); fazer três ou mais
refeições diárias (OR=2,63; IC 95%: 1,75; 5,90) e referência de não possuir Diabetes
Mellitus (OR=2,63; IC 95%: 1,31; 5,27).

CONCLUSÕES: Os idosos, em sua maioria, estavam satisfeitos com a vida e isso
se associou a situações relacionadas com o “bem-estar” e a não referência de Diabetes
Mellitus.

DESCRITORES: Idoso. Qualidade de vida. Estilo de vida. Questionários.

Faculdade São Francisco de Barreiras.

Barreiras, BA, Brasil

I I Departamento de Saúde Pública.
Faculdade de Medicina de Botucatu.
Universidade Estadual Paulista Julio de
Mesquita. Botucatu, SP, Brasil

I I I Departamento de Medicina Preventiva e
Social. Faculdade de Ciências Médicas.
Universidade Estadual de Campinas.
Campinas, SP, Brasil

Correspondência | Correspondence:

Luciane Cristina Joia
Rodovia BR 135 km 1 n. 2341 Boa Sorte
47805-270 Barreiras, BA, Brasil
E-mail: lucianejoia@yahoo.com.br

Recebido: 10/7/2006 Aprovado: 11/9/2006

ABSTRACT

OBJECTIVE: As a result of overall growing population’s life expectancy, it has
become increasingly important to ensure not only that the elderly have greater longevity
but also happiness and life satisfaction. The objective of the study was to describe
factors associated with life satisfaction among elderly people.

METHODS:Three hundred and sixty-five older persons, selected by means of random
stratified proportional sampling, were interviewed in 2003. The instrument used was a


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Joia LC et al
Rev Saúde Pública 2007;41(1):131-8
combination of Flanagan and Nahas questionnaires and WHOQOL-100. There were
added questions concerning physical activity extracted from International Physical Activity
Questionnaire, questions regarding reported morbidity and emotional assessment,
sociodemographic condition and an open question. The level of life satisfaction was
measured using a scale from one to seven by means of visual recognition. Hierarchical
logistic regression analysis was performed including “life satisfaction” as a dependent
variable and those included the final questionnaire, in blocks, as independent variables.
RESULTS: Most elderly were generally rather satisfied with life as well as with
specific aspects. The level of life satisfaction was associated with: comfort at home
(OR=11.82; 95% CI: 3.27; 42.63); appraising leisure as quality of life (OR=3.82;
95% CI: 2.28; 6.39); waking up feeling well in the morning (OR=2.80; 95% CI: 1.47;
5.36); not reporting loneliness (OR=2.68; 95% CI: 1.54; 4.65); having three or more
daily meals (OR=2.63; 95% CI: 1.75; 5.90) and not reporting Diabetes Mellitus
(OR=2.63; 95% CI: 1.31; 5.27).
CONCLUSIONS: Most elderly in the study were satisfied with life and their satisfaction
was associated with situations related to “being well” and not being diabetic.
KEYWORDS: Aged. Quality of life. Life style. Questionnaires.

INTRODUÇÃO

Nas últimas três décadas, a população brasileira vem
envelhecendo em ritmo mais acelerado devido, principalmente,
à rapidez com que declinaram as taxas
de fecundidade.4

Com o aumento geral da sobrevida da população,
ressalta-se a importância de garantir aos idosos não
apenas maior longevidade, mas felicidade, qualidade
de vida e satisfação pessoal.

Satisfação é um fenômeno complexo e de difícil mensuração,
por se tratar de um estado subjetivo. Define,
com maior precisão a experiência de vida em
relação às várias condições de vida do indivíduo. A
satisfação com a vida é um julgamento cognitivo de
alguns domínios específicos na vida como saúde,
trabalho, condições de moradia, relações sociais,
automonia entre outros, ou seja, um processo de
juízo e avaliação geral da própria vida de acordo
com um critério próprio. O julgamento da satisfação
depende de uma comparação entre as circunstâncias
de vida do indivíduo e um padrão por ele estabelecido.
1 Satisfação reflete, em parte, o bem-estar
subjetivo individual, ou seja, o modo e os motivos
que levam as pessoas a viverem suas experiências
de vida de maneira positiva.

Albuquerque & Tróccoli1 (2004) relataram que o bem-
estar subjetivo busca compreender a avaliação que
os indivíduos fazem de suas vidas, em relação aos
aspectos: felicidade, satisfação, estado de espírito,
afeto positivo, sendo considerada por alguns autores
uma avaliação subjetiva da qualidade de vida.

Segundo Ferrans & Power9 (1992), um dos parâmetros
importantes para avaliação da qualidade de vida seria
a satisfação, salientando ainda, que a satisfação
com a vida incluiria aspectos de interação familiar e
social, desempenho físico e exercício profissional.

A qualidade de vida e a satisfação na velhice têm
sido muitas vezes associada a questões de dependência-
autonomia, sendo importante distinguir os “efeitos
da idade”. Algumas pessoas apresentam declínio
no estado de saúde e nas competências cognitivas
precocemente, enquanto outras vivem saudáveis até
idades muito avançadas.

A literatura conceitua de maneira semelhante os termos
“envelhecimento bem sucedido”, “envelhecimento
ativo” e “qualidade de vida na velhice”, sob o
foco de satisfação com a vida.3 Paschoal17 (1996) cita
que a satisfação de vida, de forma indireta, refletiria a
qualidade de vida e seria também uma dimensão chave
nas avaliações de estado de saúde na velhice.

O objetivo do presente trabalho foi descrever os fatores
associados ao grau de satisfação com a vida entre
a população de idosos.

MÉTODOS

Realizou-se no ano de 2003 um estudo transversal com
indivíduos de idade igual ou superior a 60 anos, moradores
do município de Botucatu, SP. Os idosos foram
selecionados por amostragem aleatória e proporcional
entre os domicílios residenciais. Para a identificação
dos domicílios foi utilizado um cadastro contemplando
nove mil famílias alocadas aleatoriamente, sorteadas


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Joia LC et al

por meio de uma escala de 4/1 domicílios residenciais
(26% dos domicílios do município, considerando 1%
de ajuste).5 Em seguida selecionou-se aleatoriamente
neste cadastro moradores com idade igual ou superior
a 60 anos.

Calculou-se o tamanho da população alvo, considerando
um erro amostral de 5% relativo e intervalo de
confiança de 95% (a bilateral de 0,025); uma prevalência
da característica de interesse de 0,5%, desprezando-
se o fator de correção da redução de heterogeneidade
associada ao desenho de conglomerado. Assim,
o tamanho amostral mínimo necessário foi de
384 idosos.

Do total da amostra sorteada, cinco domicílios estavam
fechados em mais de três visitas, três eram casas
de veraneio e 11 idosos tinham ido a óbito, totalizando
365 idosos dos 384 sorteados. Foram perdidos,
portanto, 5% da amostra inicialmente estimada.

O instrumento de coleta de dados foi composto por
três questionários: a Escala de Qualidade de Vida de
Flanagan11 (1976), Perfil do Estilo de Vida Individual
confeccionado por Nahas et al15 (2000) e
WHOQOL-100 (World Health Organization Quality
of Life) elaborado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e validado no Brasil por Fleck et al12
(1999). Para complementar o inquérito foram acrescentadas
questões sobre atividade física, por meio
da aplicação do Questionário Internacional de Atividade
Física (IPAQ) proposto pela OMS e validado
no Brasil por Matsudo et al14 (2001), perguntas sobre
morbidade referida e estado emocional, situação
sociodemográfica, e uma pergunta aberta “O
que é qualidade de vida para o senhor(a)?”.

Em estudo piloto com 15 idosos não pertencentes à
amostra, verificou-se que a forma de construto dos
questionários não se aplicava à realidade dos idosos,
que apresentaram dificuldade de interpretação das
questões. Além disso, a acuidade visual, com freqüência
diminuída entre os idosos, dificultava muitas vezes
a leitura do instrumento. Como a auto-aplicação
excluiria idosos não alfabetizados e tratando-se de
um estudo populacional, a exclusão dessa população
comprometeria a representatividade da amostra.
Em função disso, foram feitas adaptações aos questionários
validados. A adaptação mais importante foi
do uso da “Escala de Motivação” para avaliar o grau
de satisfação com a vida. Esta escala consiste em sete
rostos desenhados, com as expressões de uma face
neutra, três desmotivadas e três motivadas.*

O instrumento final incluiu: dados sociodemográfi


cos do idoso e seus familiares; domínios de bem-estar
(saúde, potenciais e limitações), de prevenção (nutrição,
vícios, acidentes), de conforto material (utensílios
domésticos e residenciais, localização residencial,
situação financeira), de relacionamento íntimo
e familiar; relações sociais (amizades, lazer, entretenimento),
de desenvolvimento intelectual e habilidades,
de controle do estresse, de atividade física, de
avaliação do estado emocional do idoso, perguntas
sobre morbidade referida e vacinação, além da pergunta
aberta já mencionada.

O inquérito foi realizado nos meses de março a maio
de 2003, por sete entrevistadores treinados.

Após a coleta dos dados, realizou-se a descrição simples
de todas as variáveis, segundo a distribuição
de seus valores ou segundo a lógica do seu conteúdo.
A questão aberta foi analisada com método qualitativo,
identificando-se categorias no conteúdo
das respostas.

Foi estimada a associação univariada com o evento
“grau de satisfação com a vida” de todas as variáveis
do questionário e, posteriormente, a regressão logística
adotando-se como variável dependente a questão
“Considerando a vida que o(a) senhor(a) leva,
o(a) senhor(a) diria que a sua satisfação com a vida
em geral, no momento, é”. Estas alternativas foram
recodificadas em: “boa” (incluindo as alternativas
“muito” e “médio”) e “ruim”.

As variáveis independentes associadas ao evento na
análise univariada foram agrupadas em blocos:
sociodemográfico, satisfação com os diferentes aspectos
da vida, estilo de vida, morbidade, estado
emocional, formas de socialização, grau de atividade
física, estrato social e as variáveis produto da pergunta
aberta. Análise de regressão logística foi realizada
para cada bloco com o mesmo evento.

Após o estudo por blocos, as variáveis que apresentaram
associação significativa (p<0,05) foram incluídas
em um modelo final de regressão logística, colocando-
se cada uma no modelo por ordem da magnitude
do odds ratio e eliminando-se as variáveis que
deixaram de apresentar significância.

Todo o processo da pesquisa obedeceu aos princípios
éticos dispostos na Resolução n. 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde,
garantindo aos participantes, entre outros direitos, o
seu consentimento livre e esclarecido, sigilo das informações
e privacidade. O projeto de pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Facul


*Martins CO. A influência da música na atividade física. Florianópolis: Centro dos Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina; 1996


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dade de Medicina da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), em 11/11/2002.

RESULTADOS

Dos entrevistados, 59,7% (n=218) dos idosos eram
do sexo feminino. A maioria dos idosos de sexo masculino
estava casada (76,9%, n=113), enquanto que
no sexo feminino essa proporção foi de 43,6% (n=95).
Houve predominância de idosos aposentados
(61,9%), e destes, 18,4% ainda permaneciam no mercado
de trabalho. Apenas 26,8% (n=98) possuíam
escolaridade acima de quatro anos e somente 9,3%
(n=34) deles completaram o curso superior (Tabela
1). Apesar disso, 43,6% desses idosos se disseram satisfeitos
com sua escolaridade.

Com relação à aposentadoria, 83,0% (n=122) eram do
sexo feminino aposentados, porém no sexo masculino
essa proporção foi de apenas 47,7% (Tabela 1).

A distribuição de renda individual se concentrou na
faixa de três salários-mínimos e se associou estatisticamente
com o sexo (p<0,05). Os idosos do sexo feminino
tinham rendas individuas mais baixas.

Somente 18,1% (n=66) das famílias dos idosos possuíam
renda per capita superior a dois salários-mínimos.
As famílias eram relativamente pequenas, com 87,1%
delas compostas de quatro pessoas no máximo.

No que se refere ao número de cômodos na residên


cia dos idosos, a maioria se encontrava na faixa de
cinco a seis cômodos (47,4%), indicando residências
confortáveis.

Cerca de 18,9% (n=69) dos idosos vivia sozinho em
seus domicílios e 38,6% (n=141) moravam com um
acompanhante, sem diferença estatística por faixa
etária. A maioria (77,5%) residia no município de
Botucatu há mais de 20 anos, indicando uma população
estável.

Dos idosos entrevistados apenas 60,3% haviam sido
vacinados contra gripe no ano anterior.

Observou-se que 236 idosos (64,7%) não tinham o
hábito de caminhar com finalidade de praticar exercícios
físicos. Os idosos sentiam-se felizes, pois, quando
perguntado como estava sua vida atual, 51,2% (n=187)
declararam ter vida muito boa, e 43,6% (n=159) ter
vida boa.

Com relação à satisfação com a vida em geral, 51,5%
(n=187) se disseram muito satisfeitos e 43,6% (n=159).
Na Figura apresentam-se os valores relativos ao grau
de satisfação com diferentes situações da vida e com
a vida em geral da população estudada. Observa-se
que os valores correspondentes aos escores mais baixos
ocorrem nas variáveis aprendizado escolar e situação
financeira.

Observa-se na Tabela 2 que o grau de escolaridade,
entre as variáveis sociodemográficas se associou ao

Tabela 1 - Distribuição da população de 60 anos e mais segundo sexo e características demográficas. Município de Botucatu,
SP, 2003.

Sexo Feminino Masculino
Característica N % N %
Distribuição etária (anos)
60-64 52 23,9 42 28,6
65-69 48 22,0 32 21,8
70-74 45 20,6 38 25,8
75-79 32 14,7 22 15,0
80 e mais 41 18,8 13 8,8
Estado conjugal
Casado 95 43,6 113 76,9
Viúvo 93 42,7 21 14,3
Solteiro 19 8,7 8 5,4
Separado
Escolaridade
11 5,0 5 3,4
Analfabeto ou semi-analfabeto 53 24,3 26 17,7
Primário incompleto
Primário completo
Acima de primário completo
Superior
Aposentadoria
Sim
47
65
33
20
104
21,6
29,8
15,1
9,2
47,7
32
44
31
14
122
21,8
29,9
21,1
9,5
83,0
Não 114 52,3 25 17,0
Inserido no mercado de trabalho
Sim 19 91,3 48 67,3
Não 199 8,7 99 32,7
Renda (salários-mínimos)
Sem renda/não sabe
Até 1
53
80
24,3
36,7
8
32
5,4
21,8
2 a 3 36 16,5 44 29,9
4 a 6 34 15,6 29 19,7
7 e mais 15 6,9 34 23,2


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Joia LC et al

grau de satisfação com a vida. Em relação às Filhos
demais, a maioria se relacionou com situa-Lugar onde mora
ções que geram “bem-estar”. Conforto domiciliar

Constituição familiar
Os indicadores de renda e as categorias da Relacionamento íntimo
questão aberta sobre o que é qualidade de

Atividade de vida diária

vida, não se apresentaram associadas ao grau

Capacidade para o trabalho

de satisfação com a vida em geral.

Lazer

Após a análise por blocos, a composição do Saúde
modelo final de regressão logística revelou Habilidades manuais
que a “satisfação com o conforto domicili-Situação financeira
ar”, “valorizar o lazer como qualidade de Aprendizado escolar

vida”, “acordar bem pela manhã”, “fazer três 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
ou mais refeições ao dia”, “não sentir soli-Figura - Distribuição da população de 60 anos e mais segundo grau de
dão, mesmo acompanhado” e a “não referên-satisfação com diferentes aspectos da vida e com a vida em geral.


cia de Diabetes Mellitus” (Tabela 3) foram
Município de Botucatu, SP, 2003.
as que melhor representaram, entre todas as
estudadas, a determinação da satisfação com a vida DISCUSSÃO
entre os idosos estudados.


A maioria dos idosos se disse satisfeito com a vida.
Em resumo, o idoso do município de Botucatu vivia Xavier el al23 (2003) obtiveram resultados semelhanem
famílias relativamente pequenas, em residências tes na cidade de Veranópolis (RS), onde 57,0% da
confortáveis e renda modesta. O índice de alfabetiza-população idosa estudada referiram valores signifição
dos idosos encontrado foi relativamente baixo, cativos de satisfação com a vida. Esses autores indiressaltando-
se, porém que os idosos com idades mais caram saúde, presença do ambiente familiar e renda
baixas possuiam maior nível de escolaridade. como determinantes de boa qualidade de vida. Em

Tabela 2 -Associação de aspectos da vida relacionados à satisfação com a vida obtida por análise multivariada em cada
agrupamento, na população de 60 anos e mais. Município de Botucatu, SP, 2003.

Bloco de variável N OR (IC 95%)

Sociodemográfica
Escolaridade Sim 286 1,86 (1,09; 3,17)
Não 79 1,00
Satisfação
Satisfação com sua saúde Satisfeito 215 1,94 (1,08; 3,46)
Insatisfeito 150 1,00
Satisfação com o conforto domiciliar Satisfeito 326 6,64 (1,80; 24,37)
Insatisfeito 39 1,00
Satisfação com as relações de lazer Satisfeito 218 2,17 (1,25; 3,78)
Insatisfeito 147 1,00
Estilo de vida
Beliscar entre as refeições Sim 239 1,95 (1,22; 3,11)
Não 126 1,00
Número de refeições diárias 3 e mais 278 2,70 (1,58; 4,64)
Até 2 86 1,00
Morbidade
Referir diabetes Não 309 1,91 (1,04; 3,50)
Sim 56 1,00
Estado emocional
Acordar bem pelas manhãs Sim 288 2,38 (1,30; 4,34)
Não 76 1,00
Sentir-se bem na maior parte do tempo Sim 311 3,35 (1,57; 7,14)
Não 53 1,00
Sentir solidão mesmo acompanhado Não 253 2,27 (1,36; 3,78)
Sim 111 1,00
Equilíbrio entre trabalho e lazer Sim 273 2,02 (1,17; 3,49)
Não 92 1,00
Socialização
Relação de lazer Sim 218 1,96 (1,22; 3,12)
Não 147 1,00
Ser ativo na comunidade Sim 188 1,93 (1,22; 3,06)
Não 177 1,00
Gostar de música, tv ou teatro Sim 316 2,21 (1,12; 4,37)
Não 49 1,00
Prática de atividade física
Atividade de grande esforço Pelo menos 1 dia 16 3,78 (1,02; 13,97)
Nenhum dia 349 1,00


136 Condições associadas à satisfação com a vida Rev Saúde Pública 2007;41(1):131-8Joia LC et al

Tabela 3 - Fatores associados ao grau de satisfação com a vida entre idosos de 60 anos e mais. Município de Botucatu (SP),
2003.

Fator Variável N OR (IC 95%)

Satisfação com o conforto domiciliar Satisfeito 326 11,82 (3,27-42,63)
Insatisfeito 39 1,00
Valorizar o lazer como qualidade de vida Satisfeito 218 3,82 (2,28-6,39)
Insatisfeito 147 1,00
Acordar bem pela manhã Sim 288 2,80 (1,47-5,36)
Não 76 1,00
Sentir solidão mesmo acompanhado Não 253 2,68 (1,54-4,65)
Sim 111 1,00
Número de refeições diárias 3 ou mais 278 2,63 (1,75-5,90)
2 ou menos 86 1,00
Referir Diabetes Mellitus Não 309 2,63 (1,31-5,27)
Sim 56 1,00

Botucatu, a satisfação com a vida foi relacionada ao
conforto domiciliar, a acordar bem pela manhã, a ter
três ou mais refeições diárias, à não sensação de solidão,
não ser diabético e valorizar o lazer como qualidade
de vida. No trabalho desenvolvido por Santos
et al20 (2002), com a população de 60 anos e mais, no
município de João Pessoa (PB), a satisfação com a
vida e a qualidade de vida dos idosos variou de pouca
a moderada. Esses resultados sugerem que, apesar
das regiões Nordeste, Sudeste e Sul apresentarem
maior proporção de idosos, a região Nordeste parece
apresentar maior concentração de idosos insatisfeitos,
possivelmente em decorrência da desigualdade
social e da falta de acesso a um padrão de vida que
propicie mais conforto.2

Os resultados do presente trabalho revelaram que a
maior parte dos idosos não praticava atividade física
programada. Entretanto, nas análises por blocos de
variáveis, a presença de atividades de grande esforço
se associou à satisfação com a vida. Costa et al7 (2003),
em estudo descritivo sobre a população idosa brasileira,
baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, relataram que a maioria dos idosos não
realizava atividades físicas.

No presente estudo, satisfação com o conforto do
domicílio foi a situação que mais se associou à satisfação
com a vida. Para Veras & Alves22 (1995), fatores
socioeconômicos têm influência importante na qualidade
de vida da população, pois a situação econômica
oferece suporte material para o bem-estar do
indivíduo, influencia os modos de lidar com os graus
de qualidade de habitação, com as pessoas que o rodeiam,
com a independência econômica e com a estabilidade
financeira. O conforto domiciliar pode,
entretanto, ser interpretado simplesmente como situação
que produz bem-estar.

A satisfação com a saúde entre os idosos de Botucatu
foi considerada boa (58,9%), comparada à encontrada
em estudo epidemiológico conduzido em Bambuí,6
no Brasil, onde a percepção da saúde como boa/mui


to boa entre os idosos variou em torno de 25%. Em
estudo de Ryff19 (1989), os idosos consideraram a
saúde como o elemento mais importante para a qualidade
de vida e sua falta como maior motivo de infelicidade.
Eles associaram a manutenção da funcionalidade
e a aceitação das alterações, entre outros, às mudanças
positivas relacionadas ao envelhecimento e
aos significados de bem-estar. No presente estudo
“não ser portador de Diabetes Mellitus” foi a morbidade
referida que se associou à satisfação com a vida.
Entretanto, Souza et al21 (1997), em estudo sobre a
qualidade de vida da pessoa diabética, verificaram
que 66,6% dos diabéticos idosos estavam satisfeitos
com a vida e que o grau de satisfação relacionava-se,
sobretudo, ao seu bem-estar físico (54,5%), estabilidade
socioeconômica (26%), e bem-estar emocional
e espiritual (16,9%). Isso pode refletir certo grau de
adaptabilidade do idoso à sua condição física.

Hickson & Frost,13 em pesquisa sobre a relação da
qualidade de vida, estado nutricional e função física
em idosos de Londres, Inglaterra, concluíram que o
estado nutricional não influencia a qualidade de vida,
mas poderia afetar diretamente a função física. No
presente estudo, a associação entre fazer três ou mais
refeições diárias e satisfação com a vida, mediu mais

o estilo de vida e aspectos psicológicos de bem-estar
do que aspectos nutricionais. Cabe lembrar que a
pergunta limitava-se ao número de refeições.
A não-referência de solidão também se associou com
a satisfação com a vida. A literatura aponta que a
procura pelo lazer poderia estar associada à fuga de
solidão,18 e que sintomas de ansiedade foram associados
à menor satisfação com a vida e ao pior padrão
de qualidade de vida.

Estudos baseados na aplicação de questionários à população
idosa destacaram a importância de alguns fatores
levantados pelos idosos de Botucatu. Ferraz &
Peixoto10 (1997) revelaram dados positivos sobre a
qualidade de vida dos idosos pertencentes a uma instituição
de recreação, tanto para indicadores objetivos


Rev Saúde Pública 2007;41(1):131-8

quanto para subjetivos. No presente estudo concluiu-
se que a saúde e a independência foram os principais
determinantes da felicidade. Outras razões mencionadas
pela população estudada foram: sistema de apoio,
serem aceitos pela comunidade, afetividade, descrição
positiva do casamento e condições familiares que
reforçam a percepção do convívio social e familiar.
Najman & Levine16 (1981) verificaram que a satisfação
com a vida esteve relacionada à descrição positiva
do casamento, boas condições familiares, boa convivência
social e familiar e à relação entre as aspirações
e realizações. Esses autores concluíram que o principal
determinante da percepção de alta satisfação com
a vida é um relacionamento social estável.

REFERÊNCIAS

1. Albuquerque AS, Tróccoli BT. Desenvolvimento de
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Condições associadas à satisfação com a vida 137
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Os resultados das análises por blocos e o modelo final
de regressão para a determinação do grau de satisfação
com a vida em geral entre idosos, sugerem que os fatores
associados à satisfação com a vida na velhice, de
alguma maneira, estão relacionados à sensação de conforto
e bem-estar, independentemente de serem indicadores
de renda ou de estrato social.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Ricardo Cordeiro, do Departamento de
Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp pela sua contribuição na
realização da pesquisa.

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Pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp - Processo n. 02/09842-0).
Baseado em dissertação de mestrado de LC Joia, apresentada à Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, em 2004.

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