domingo, 14 de junho de 2009

Resenha

SOUZA,Andréa Santos; MEIRA, Edméia Santos; NERI, Ivone Gonçalves; SILVA, Joice Alves da; GONÇALVES, Lucia Hisako Takase.Fatores de risco de maus-tratos ao idoso na relação idoso/cuidador em convivência intrafamiliar. Textos Envelhecimento, v.7 n°2, R.J., 2004.

Biografia:

Lucia Hisako Takase Gonçalves

Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1B | Orientador de Doutorado
Doutorado em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Brasil (1973)
Pós-Doutorado pela University of California - San Francisco, Brasil(1988)
Atuação em Interdiciplinaridade, Gerontologia
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de Santa Catarina , Brasil

Resumo:

Este artigo relata um estudo realizado com objetivo de identificar fatores de risco de maus-tratos na relação idoso/cuidador em convivência intrafamiliar, em famílias moradoras de uma comunidade de periferia do município de Jequié. Em seu processo de envelhecimento, a pessoa idosa pode vir a sofrer alterações de diversas ordens favorecedoras de condição de fragilidade, muitas vezes associada a uma doença crônico-degenerativa ou a um quadro de comorbidade. Essa condição torna o idoso dependente de cuidados de outro, podendo expô-lo a situação de risco de violência intrafamiliar. Esses idosos, com renda de um salário mínimo e convivendo em família de filhos e netos que deles dependem para a sobrevivência, por certo deixam de suprir suas próprias necessidades mínimas. Isso ocorre devido não só a renda deles, mais a própria está nas mãos dos cuidadores, e delas eles fazem o que bem entender. No Brasil, pouco se tem escrito e discutido sobre este tipo de violência, negligência,abuso e maus-tratos, isto pelo fato de que na maioria das vezes esses casos acontecem dentro da própria família, os idosos ficam com receio em denunciar e a situação acaba sendo abafada. Essa é uma realidade que vem acontecendo freqüentemente em nossa sociedade.

Palavras-chaves: Idoso, Relações Familiares, Maus-tratos.

“Em seu processo de envelhecimento, a pessoa idosa pode vir a sofrer alterações de diversas ordens favorecedoras de condição de fragilidade, muitas vezes associada a uma doença crônico-degenerativa ou a um quadro de comorbidade. Tal condição torna o idoso dependente de cuidados de outrem, podendo expô-lo a situações de risco de violência intrafamiliar, quando seus cuidadores forem familiares convivendo em contexto de relacionamentos disfuncionais”.
“No Brasil, pouco se tem escrito e discutido sobre violência, negligência, abuso e maus-tratos. Carece-se também de estatística quanto aos agredidos, agressores e também às prováveis causas. Trata-se de uma temática complexa, de difícil estudo e identificação, sobretudo em idosos, porque eles geralmente não denunciam abusos, menosprezo, abandono e desatenções sofridas, por medo de serem punidos e perderem o acolhimento que estão recebendo de seus cuidadores, que são, ao mesmo tempo, os próprios agressores. Outros sentem vergonha de fazer denúncias. Há ainda àqueles que sofrem de maus-tratos sutilmente mascarados que não se dão conta de que estão sendo vítimas de violência” (MINAYO; SOUZA, 2003).
“Os possíveis fatores de risco de maus-tratos em idosos foram levantados por meio da aplicação de um questionário composto de questões estruturadas, formulado especificamente para o presente estudo”.
“Esses idosos, com renda de um salário mínimo e convivendo em família de filhos e netos que deles dependem para a sobrevivência, por certo deixam de suprir suas próprias necessidades mínimas. Por isso, acreditamos que a condição de precários recursos materiais do idoso e do cuidador poderá configurar-se em situação de risco real de, no mínimo, negligência no cuidado do idoso”.
“Perguntados sobre a existência ou não de harmonia intrafamiliar, 44 (88%) idosos relataram haver desarmonia no seu relacionamento familiar, como se pode ver em suas palavras:
"Por mim se dá, mas eles não gostam de mim"; "às vezes eu não convivo bem com a nora"; "Mais ou menos,vai levando"; "De vez em quando a gente briga; "Por completo não ta bem, sempre há as desavenças"; "Não é muito bom não, a gente se atura"; "É que nem maré, uma hora tá bom, outra não tá, é mais pra ruim";" é meio perturbado, às vezes a gente sai na briga eu, meu filho e a nora"; "Meu genro briga muito aqui dentro de casa".
“Percebemos que as famílias se encontram despreparadas para enfrentar a condição de cronicidade prolongada no processo do envelhecimento dos idosos de que cuida. Permitem, assim, que se estabeleçam os conflitos intergeracionais, além de outras disfuncionalidades nas relações de cuidado, e transformam em riscos potenciais de desrespeito ao idoso em sua história de vida, e ao seu viver condigno”.
“Esses idosos, com renda de um salário mínimo e convivendo em família de filhos e netos que deles dependem para a sobrevivência, por certo deixam de suprir suas próprias necessidades mínimas. Por isso, acreditamos que a condição de precários recursos materiais do idoso e do cuidador poderá configurar-se em situação de risco real de, no mínimo, negligência no cuidado do idoso”.
“É notório observar que abusos, maus-tratos e negligência ocorridos em ambiente familiar, os conflitos intergeracionais, as dificuldades físico-financeiras, as mútuas dependências do idoso e do cuidador, somados ao imaginário social que considera a velhice e o envelhecimento como uma fase de decadência da vida humana, o estudo da violência contra os idosos se torna mais complexo, quando se deseja compreendê-la a partir do interior da unidade familiar, uma arena privada a ser tornada pública”.
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